sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CEARÁ: GARGALOS LOGÍSTICOS


Mesmo com avanços na infraestrutura física e operacional, os portos de Fortaleza e do Pecém, no Ceará, têm desafios a vencer. Dificuldade de acesso, reforço na área de armazenagem, falta de agilidade para reduzir os tempos de carga e descarga e as longas filas de caminhões no gate, são algumas das questões evidenciadas por empresários e executivos que atuam no setor.

     “Creio que hoje já é possível trabalhar com previsibilidade muito boa, o que é um fator importante, mas ainda temos que solucionar alguns problemas para conferir agilidade às operações”, assinala Edson Brok, presidente da Câmara Setorial de Fruticultura do Ceará. O executivo considera fundamental a modernização da gestão portuária, incluindo desde as operações de carga e descarga de mercadorias, passando pela documentação, trânsito de usuários até a segurança. “Precisamos de um sistema integrado entre os órgãos fiscalizadores, possibilitando agilidade, transparência e eficiência”, diz.

     O diretor da Emitrade Center, Marcos de Castro, por sua vez, defende uma revisão na legislação, “com parâmetros mais dinâmicos e coerentes” para assegurar melhor desempenho no comércio Internacional. “Já apresentamos uma argumentação profissional com relação à necessidade de que as exigências da Receita Federal e de órgãos do Governo sejam atendidas de forma satisfatória sem, contudo, onerar o exportador ou ser um obstáculo à iniciativa de exportação debilitando nossa atuação na arena agressiva de concorrência internacional”, acrescenta.

     Os portos de Fortaleza, na capital, e do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, terminal que opera 24 horas, registram bons fluxos de entrada e saída de veículos, mas ainda falta de parte dos operadores certa agilidade, para reduzir os tempos de carga e descarga, a permanência em longas filas de caminhões no gate, conforme afirma Brok.
“Precisamos ser mais eficientes. Ter uma infraestrutura mínima que permita aos prestadores de serviços –despachantes, empresas, transportadoras e outros –condições de trabalho mais adequadas”, pondera.

     Como operador do porto do Mucuripe, Marcos Henrique Nunes, gerente geral da unidade da Galvani, em Fortaleza, defende reforço na área de armazenagem para carga geral. “Se fosse prospectar cargas de terceiros, não teria onde colocar”, diz o também diretor- presidente do Órgão Gestor de Mão de Obra no Ceará (OGMO), que reúne mais de 400 trabalhadores do setor portuário. Conforme observa, o porto tem cinco armazéns, mas um será demolido. “O que existe é um projeto para um armazém estruturado que pode ser montado e desmontado”, pontua. Sugere ainda uma política comercial mais agressiva para vender o porto melhor e ampliar a carteira de clientes. “Com mais cargas, melhoramos as tarifas, mão de obra, até a própria operação”, avalia o dirigente, para quem, quanto mais navios, maior deverá ser a eficiência da operação. Para Nunes, o Porto de Fortaleza deveria buscar novos armadores e parceiros. “Estou no porto há anos e o que apareceu de novo foi por meio de operadores e agentes, por questões operacionais pelo contingenciamento do Pecém”, observa.

Integrante ainda da diretoria do Sindicato dos Operadores Portuários e do Sindicato das Agências de Navegação, Nunes assinala que houve melhorias na estrutura, mas é preciso oferecer novas áreas, pois isto representaria redução de tarifas e incremento na operação.

“Um maior volume de carga proporciona melhorias nos preços e concorrência
entre os operadores”, acrescenta Frederico de Carvalho, diretor-operacional
do Tergran. Resultado da união dos moinhos M. Dias Branco, J. Macêdo e Fortaleza, a empresa opera com granéis sólidos e tem concessão para atender a outros clientes. Segundo aponta, o aumento do calado do porto de Fortaleza vai proporcionar a expansão do movimento de cargas, com navios de maior porte e novas mercadorias, que foram puxadas pelo Pecém. “A proximidade do porto com as empresas é um diferencial importante, com vantagens para o Mucuripe”, afirma.

     O diretor de suprimentos da Aço Cearense, Paulo Martins, cita entre os gargalos “um pouco de burocracia”, resultado do envolvimento de diversos órgãos no processo. “Precisamos de mais agilidade”, assinala. A empresa opera nos portos do Mucuripe e Pecém e concentra maior volume neste último, em função das facilidades para o fluxo de caminhões. Sem deixar de reconhecer o esforço da Cearáportos no crescimento físico do local, Martins diz que outro ponto é a expansão do número de navios desembarcando, o que aumenta o tempo de atraque, “promovendo algumas vezes reclamações dos armadores e renegociação de prazo”.
 Marcos de Castro, diretor da Emitrade, diz que existe diálogo entre os setores e as entidades portuárias, “com o objetivo de vencer obstáculos e problemas” e destaca o esforço da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), através da iniciativa das câmaras setoriais.
A questão segurança, com a implantação ISPS Code, após os eventos de 11/09, melhorou muito, segundo fontes consultadas. Marcos de Castro, lembra que “houve muita contestação e protesto quanto aos parâmetros de segurança implementados no Porto de Pecém”.
Enquanto Brok observa que há inúmeras estruturas para facilitar a saída e entrada de carga dos portos. “Seria um avanço muito grande, por exemplo, se o Pecém pudesse incorporar equipamentos modernos para dar agilidade ao desembaraço de mercadorias”, sugere. Dificuldades de acesso estão entre os pontos considerados por empresários e executivos.
Brok pondera que o Pecém aguarda a duplicação da BR 222 – a rodovia passa por dois polos industriais - uma área de expansão que é o quarto anel viário, com novas transportadoras e armazéns, além de Maracanaú, com tráfego de caminhões da Ceasa. Isso sem citar o cruzamento com a BR 020, onde será instalado o condomínio dos atacadistas.
“A duplicação da BR 222 é de extrema importância para o Pecém, assim como a continuação do quarto anel viário, via ponte sobre o Rio Sabiaguaba, para o Mucuripe”, afirma. Também há um projeto para a construção de uma estrada, ligando Pacajus ao Pecém. Denominada de arco metropolitano, vai facilitar o acesso de cargas ao porto, além de encurtar a distância em 20km. “Essas obras poderão mudar completamente o panorama no Estado, pois vamos ter acesso fácil e ligação direta entre os dois portos”, avalia.
As condições de transporte para o escoamento dos produtos do porto de Fortaleza ainda são complicadas, segundo Marcos Henrique Nunes, gerente geral da unidade da Galvani, em Fortaleza. “Estamos dentro da área urbana e o movimento de caminhões, tanto para entrar como para sair, sempre ocorre passando por áreas densamente povoadas”, diz. Conforme avalia, o mesmo ocorre com a ferrovia que passa dentro de um bairro, que cresceu à
sua volta, expondo os moradores da região a um perigo constante. “Esses fatores limitam a velocidade e os volumes movimentados”, assinala.
Nunes observa também que, considerando o fato de o porto ser público, os custos estão em patamares aceitáveis. “Ainda temos um movimento acanhado em relação a outros portos”, acrescenta, ao pontuar que o grande problema é com relação à mão de obra sindicalizada. “Talvez o nosso maior problema”, diz.
Nunes considera a intermodalidade uma questão complexa. “Como  demanda o entendimento entre diversos órgãos e institutos tanto em nível municipal, estadual como federal, ainda não funciona e talvez demore um pouco a funcionar. Particularmente, não acredito que tenhamos a intermodalidade antes de 10 anos”, pondera.
“A intermodalidade ainda não está nos padrões europeus, mas temos uma das melhores logísticas do País para o setor”, afirma o presidente do Instituto de Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria (Frutal), Euvaldo Bringel Olinda. O dirigente diz estar preocupado com a expansão das atividades no retroporto do Pecém, que poderia “atropelar” as operações no setor de frutas.
“A ferrovia Transnordestina também deverá trazer carregamento extra”, observa. Reconhece, entretanto, que o Pecém foi concebido, originalmente, para dar suporte a projetos como os da refinaria e siderúrgica. Como isso não aconteceu logo, as frutas ganharam espaço. “Precisamos encontrar uma forma para não prejudicar o setor e ampliar ainda mais a participação da fruticultura”, afirma.
Para Paulo Martins, da Aço Cearense, o Pecém funciona muito bem, tem um bom trânsito dos materiais, ruas e espaços bem definidos. “Mas identificamos que o fluxo e a disponibilidade de espaços têm sido afetados pelo volume de navios que chegam. É o resultado do desenvolvimento do Estado, que está sendo mais rápido que o crescimento do Porto do Pecém”, avalia. O diretor cita como gargalo “um pouco de burocracia”, resultado do envolvimento de vários órgãos no processo. “Precisamos de mais agilidade neste ponto”, assinala.
Outro fato a destacar, segundo o executivo, é o número de navios desembarcando, o que aumenta o tempo de atraque, promovendo algumas vezes reclamações dos armadores e renegociação de prazo.

PROF. DELANO GURGEL DO AMARAL
FONTE: REVISTA CAIS DO PORTO
DEZ 2010

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