terça-feira, 10 de julho de 2012

Capitalismo em crise (de novo): verdade e represália


Financial Times
Rupert Murdoch cancelou sua festa londrina de verão. Comparecer ao evento costumava ser obrigatório para os políticos ambiciosos. Mas, se o dono da News Corp. tivesse mantido a festa deste ano, teria se sentido bastante solitário. Antes muito prestigiado no governo, Murdoch agora carrega a mácula do escândalo da pirataria de celulares por um de seus jornais.
O magnata da mídia não está passando vergonha sozinho. Os últimos dias também viram a dramática, e mais que merecida, queda de Bob Diamond. O antigo presidente do banco Barclays foi forçado a se demitir depois que o banco admitiu manipulação corrupta de taxas de juro de mercado.
Diamond no passado era figura emblemática na campanha por Londres como polo financeiro do planeta. Sua partida, agora, foi celebrada.
O premiê David Cameron falou de um "comportamento ultrajante". George Osborne, o ministro das Finanças, disse que a saída de Diamond faria bem ao Barclays e ao país. O Reino Unido poderá redescobrir uma "cultura de responsabilidade".
Agora todos sabem que os bancos que estavam apostando o dinheiro dos contribuintes ao mesmo tempo lhes vendiam apólices de seguro fraudulentas. E as trapaças tributárias dos ricos são vistas hoje como um fardo sobre o restante da sociedade.
O que vem acontecendo aqui é uma reavaliação muito necessária dos padrões aceitáveis de comportamento. Seria lícito alegar que a austeridade econômica deu início a um processo nacional de verdade e reconciliação, mas ainda temos muito a avançar antes que a reconciliação seja possível.
Para onde iremos com tudo isso? A criminalidade nas operações jornalísticas de Murdoch será resolvida pelos tribunais. Quanto aos bancos, a saída de Diamond oferece oportunidade para uma mudança real de cultura na City. Lucro e legalidade não precisam ser excludentes.
Determinar se o governo conseguirá fazer jus ao momento é mais difícil. O ministro das Finanças, até o momento, vem aproveitando a situação apenas para ganhar vantagem política sobre a oposição trabalhista.
E um primeiro-ministro conservador deveria articular um modelo mais responsável de capitalismo. Mas falta a Cameron qualquer propósito central para seu governo, o que o leva a flutuar com o sopro das circunstâncias.
Por isso, o Reino Unido vive um momento de verdade e represália. A reconciliação ainda vai demorar.

DO "FINANCIAL TIMES"

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