domingo, 11 de dezembro de 2011

A economia invisível

Bancos públicos e privados já olharam com redobrada atenção os ativos intangíveis de cada empresa, setor ou país antes de investir numa operação

Não imagine, ao ler o nome desta coluna, que nosso revisor tenha comido bola. Iconomia, assim mesmo, grafada com i, é o novo paradigma gerado pela economia do conhecimento e da cultura. A expressão foi cunhada pelo economista americano Michael Kaplan. Surgiu pela primeira vez num documento acadêmico que tentava interpretar o discurso de Alan Greenspan, então presidente do banco central americano. Cada fala de Greespan foi por anos monitorada milimetricamente por analistas e investidores ávidos de sinais sobre o cenário futuro dos juros. Kaplan batizou seu paper com um “Iconomics”. Num mundo financeiro cada vez mais digitalizado, com decisões em tempo real, tornou-se crucial interpretar corretamente os sinais. No artigo, Kaplan batizou uma nova vertente da economia, uma maneira inovadora de olhar o mercado por meio de seus ícones (preços são sinais). Inovadora porque, desde Adam Smith, a economia guiou-se por teorias de molde mecanicista. Isso funcionou até o final da era industrial e urbana. Na economia do conhecimento destacam-se dimensões antes mal consideradas, fatores intangíveis e imateriais que pesam cada vez mais na criação de riqueza de nações e empresas – da credibilidade das metas monetárias ao capital humano, sem esquecer as marcas comerciais. O exemplo recente mais notável é fornecido pela Coréia, que superou a condição subdesenvolvida em tempo recorde investindo na formação de pessoas competentes.
A iconomia tem seus
indicadores, sua iconometria
para visualizar o desempenho
de empresas e de países
A iconomia tem seus novos indicadores, sua iconometria, novas formas de visualização do desenvolvimento econômico e do desempenho de indivíduos, empresas e países que levam em consideração não apenas os tradicionais PIB e juros, mas também o investimento na formação de analistas simbólicos – profissionais preparados para levar mais longe sua capacidade de ler sinais e investir, inovar e criar valor. Na era industrial, esses recursos humanos – fonte de competitividade – nem entravam nos balanços das empresas ou nas contas nacionais. O Banco Mundial classifica países segundo o “Indicador da Economia do Conhecimento”. Leva em conta o incentivo à produção, a educação, a qualidade das redes digitais e a capacidade de inovação. Bancos públicos e privados já olham com redobrada atenção os ativos intangíveis de cada empresa, setor ou país antes de investir numa operação. Para navegar nesse novo mundo é necessário algo mais do que familiaridade com fórmulas econométricas. É preciso decodificar ícones e acompanhar seus ciclos de vida. Outro exemplo: assim que a imagem do iPhone surgiu na tela estrelada por Steve Jobs as ações da Apple dispararam. Detalhe: o equipamento, já qualificado como revolucionário, será comercializado somente em alguns meses. A encenação mediática de Jobs teve um efeito material instantâneo no bolso dos acionistas da empresa. Entre o discurso de Greenspan e a imagem da Apple há mais semelhanças que diferenças. Ambos põem em jogo uma economia de ícones que afeta o valor de ativos e de capitais.
ÉpocaNegócios

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