segunda-feira, 2 de julho de 2012

Celulares ajudam a capturar criminosos nos EUA


São Paulo - Nos Estados Unidos, redes de vigilância usam celulares para localizar motoristas infratores, capturar criminosos e identificar ataques com armas químicas.
Quando foram lançados, em meados da década de 1980, os telefones celulares transformaram a maneira como as pessoas se comunicam. Anos depois, eles mudaram o comportamento. Hoje, enviam mensagens multimídia, acessam a internet, são ao mesmo tempo câmera digital e editor de imagens, viraram um ótimo videogame e ajudam a encontrar o melhor caminho para chegar a lugares. Num futuro não muito distante, os smartphones vão passar por mais uma grande mudança: vão identificar de buracos nas ruas a criminosos.
Com a ajuda de ferramentas como GPS, acelerômetro e giroscópio, os celulares e outros gadgets sem fio estarão ligados a redes de vigilância criadas para capturar bandidos ou detectar ameaças à segurança pública. No futuro, eles serão capazes de encontrar aparelhos eletrônicos roubados, armazenar placas de veículos, farejar drogas e até evitar um ataque com armas químicas.
Essas redes não vão eliminar a necessidade de uma força policial, mas darão ao governo olhos e ouvidos em milhares de lugares ao mesmo tempo. "O termo Big Brother é muito usado quando são discutidas tecnologias de vigilância", afirma Howard Rheingold, autor do livro Smart Mobs, que descreve o poder da comunicação móvel para transformar a sociedade. "Mas nem o escritor George Orwell previu um futuro em que todas as pessoas fazem parte do Big Brother."
Redes de vigilância que usam aparelhos móveis começam a pipocar nos Estados Unidos. Um dos sistemas que já desperta o interesse do governo americano aposta em sensores de posicionamento com GPS para identificar motoristas de transportadoras que usam um pequeno aparelho que envia um sinal de interferência para enganar o sistema de localização das empresas.
As consequências podem ser desastrosas: vários serviços críticos, como as torres de controle de aeroportos, usam equipamentos de GPS. Depois de uma série de incidentes por causa da interferência do sinal, as autoridades estão dispostas a encontrar e prender os responsáveis.
Uma das principais armas para combater os motoristas infratores é o smartphone. Durante a conferência do Instituto de Navegação, em Portland, nos Estados Unidos, o engenheiro Phil Ward propôs a criação do J911, um sistema que usa o GPS em celulares para encontrar quem comete esse tipo de delito. Vários telefones são capazes de identificar quando sinais de GPS estão sendo afogados por ruídos eletrônicos.
Ward, que trabalha para a Navward GPS Consulting, quer adicionar um software que garanta que os smartphones enviem automaticamente dados para uma central de controle toda vez que isso for detectado. A central usa esses relatórios para determinar a localização de quem faz a interferência e avisa a polícia. Ward acredita que, com uma densidade de mil smartphones por quilômetro quadrado, levaria cerca de dez segundos para descobrir a localização de um aparelho de interferência em um raio de 40 metros.
Não são apenas os telefones que podem transformar as pessoas em policiais cidadãos. Mario Gerla, cientista da computação da Universidade da Califórnia, quer usar os gadgets instalados em nossos carros para rastrear veículos suspeitos. Para isso, ele vai usar os serviços de navegação e conectividade sem fio, câmeras de vídeo usadas para estacionar e sistemas que evitam colisões, cada vez mais presentes nos veículos novos. Aí é só adicionar um mecanismo que reconhece placas, como os utilizados nas viaturas de polícia, e você tem o MobEyes.
Na prática, o sistema coloca um policial dentro de cada automóvel. Ele tira fotos da placa de cada carro que cruza seu caminho e coloca na imagem o horário e a localização onde isso aconteceu. Após um período predeterminado, há a troca da lista de placas armazenadas entre os veículos participantes do sistema em um raio de 100 metros. Em simulações em uma área de 2,4 quilômetros quadrados, Gerla descobriu que 300 veículos com MobEyes foram capazes de registrar todas as placas da região em poucos minutos.
Cheiro de morte - As aplicações das redes cidadãs são inúmeras. Em Boston, nos Estados Unidos, motoristas terão à disposição um app chamado Street Bump. Ele usa o acelerômetro e o GPS do telefone para gravar a localização de um buraco toda vez que o carro passar por um e enviar os dados para a prefeitura, que aciona o serviço de reparo. Essas redes também podem ajudar a salvar vidas.
O Cell-All é um sistema de vigilância ambiental que usa celulares para detectar no ar um produto químico nocivo à saúde. Isso serve para alertar sobre um acidente industrial ou, em casos mais drásticos, para um ataque com armas químicas. Desenvolvido pela agência de pesquisas em segurança interna dos Estados Unidos, o sistema foi criado para substituir os serviços de emergência como uma maneira mais rápida e confiável de pedir ajuda. Segundo a agência, o Cell-All salvaria vidas ao alertar rapidamente médicos e equipes de resgate a respeito de materiais perigosos. Com a vantagem de que o salvamento chegaria ao local já sabendo qual é o tipo de ameaça.
"Detectores químicos já são utilizados em algumas cidades dos Estados Unidos, mas uma rede móvel seria mais efetiva e precisa", afirma Stephen Dennis, gerente do projeto. Os primeiros testes do Cell-All aconteceram em setembro de 2011, em um cenário criado para parecer um quarto de hotel dentro do centro de treinamento dos bombeiros da cidade de Los Angeles. Monóxido de carbono foi liberado dentro do ambiente e um iPhone modificado soou um alarme, alertando os serviços de emergência. Em outros testes, o telefone identificou a presença de cloro ou amônia no ar.
Com o passar do tempo, os sensores serão capazes de detectar até 400 produtos químicos, como ácido cianídrico, tolueno e gás mostarda. Para isso, os celulares serão equipados com um chip do tamanho de um selo, desenvolvido pelo centro de pesquisas da Nasa. Eles ainda custam caro, mas os pesquisadores esperam que a produção em série reduza o custo de cada processador para menos de 5 dólares por unidade.
Celular 2

Se por um lado os smartphones ajudam a salvar vidas e a mandar bandidos para trás das grades, por outro, eles podem acabar com algo muito importante: a privacidade. Se cair em mãos erradas, esses serviços entregam dados pessoais, como lugar em que você mora e trabalha, que locais costuma visitar e onde seus amigos moram. "Só porque os dados estão sendo coletados para algo que vemos como benéfico não significa que sejam usados sempre para o bem", disse Christine Peterson, presidente do Instituto Foresight,  de Palo Alto, na Califórnia.
As autoridades do governo sabem do desafio que terão de enfrentar para convencer as pessoas de que programas como o Cell-All não vão invadir sua privacidade. "O usuário precisa decidir fazer parte da rede", disse John Verrico, porta-voz do departamento de segurança dos Estados Unidos. "Não é o seu telefone que queremos rastrear, mas o que originou os alertas." Apesar da polêmica, o centro de pesquisa da Nasa espera desenvolver o Cell-All em parceria com a Qualcomm e mantém conversas também com a Apple, Samsung, LG e Nokia para discutir o design de aparelhos. Os primeiros smartphones com detectores químicos devem chegar ao mercado em 2013.
Na disputa entre segurança e privacidade é possível ter uma solução que satisfaça os dois lados. "Queremos que pessoas comuns contribuam para o bem da sociedade, mas sem expor seu comportamento e sua localização no processo," afirma David Kotz, do Instituto de Segurança, Tecnologia e Sociedade do Dartmouth College. Ele e sua equipe desenvolveram o AnonySense, um sistema que entrega uma gama completa de medidas de segurança para proteger o anonimato de qualquer um em uma rede sem fio.
Funciona assim: um celular normalmente transmite um pacote de dados que inclui o seu único endereço MAC, definido durante a fabricação, e o seu endereço IP. O AnonySense usa rotação de endereços para disfarçar esses padrões. Um sistema de chaves de criptografia públicas e privadas também é usado para codificar e assinar os dados. Isso significa que os destinatários podem verificar se a fonte dos dados é confiável. Por fim, o AnonySense adiciona proteção extra ao modificar o tempo do envio dos relatórios de transmissão para evitar que referências cruzadas possam ajudar a identificar os usuários. Se der certo, o resultado pode ser uma vigilância de cidadãos feita por cidadãos e para cidadãos. E uma cidade mais segura para todos.

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